sábado, 29 de setembro de 2012

O significado da Transfiguração de Jesus

Ele vai transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso (Fl 3,21)
 
O episódio misterioso da Transfiguração de Jesus sobre um monte elevado, o Tabor, diante de três testemunhas escolhidas por ele: Pedro, Tiago e João, se situa no contexto a partir do dia em que Pedro confessou diante dos Apóstolos que Jesus é o Cristo, “o Filho de Deus vivo”. Esta confissão cristã aparece também na exclamação do centurião diante de Jesus na cruz: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39), pois somente no Mistério Pascal o cristão pode entender o pleno significado do título “Filho de Deus”.
A partir desta revelação de Pedro, inspirado pelo Pai, Jesus, diz S. Mateus, “começou a mostrar a seus discípulos que era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse… que fosse morto e ressurgisse ao terceiro dia” (Mt 16,21). Pedro rechaça este anúncio, os demais também não o compreendem, mas Jesus mostra a eles que afastá-lo do cálice da Paixão, que ele deveria beber, era ser movido por Satanás.
O Evangelho segundo São Lucas destaca a ação do Espírito Santo e o sentido da oração no ministério de Cristo. Jesus ora antes dos momentos decisivos de sua missão: antes de o Pai dar testemunho dele por ocasião do Batismo e também antes da Transfiguração, e antes de realizar por sua Paixão o plano de amor do Pai.
O rosto e as vestes de Jesus Cristo tornam-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, e é importante notar que o evangelista destaca sobre o que eles falavam: “de sua partida que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9,31). Uma nuvem os cobre e uma voz do céu diz: “Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o” (Lc 9,35). A nuvem e a luz são dois símbolos inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as manifestações de Deus (teofanias) do Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora luminosa, revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de sua Glória: com Moisés sobre a montanha do Sinai, na Tenda de Reunião e durante a caminhada no deserto; com Salomão por ocasião da dedicação do Templo.
Na Transfiguração a Trindade inteira se manifesta: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara. E Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra também que, para “entrar em sua glória” (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias. Fica claro que a Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus.
A rica liturgia bizantina assim reza na festa da Transfiguração: “Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai.”
No limiar da vida pública de Jesus temos o seu Batismo; no limiar da Páscoa, temos a sua Transfiguração. Pelo Batismo de Jesus foi manifestado o mistério da primeira regeneração: o nosso Batismo; já a Transfiguração mostra a nossa própria ressurreição. Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos da Igreja. A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, como disse São Paulo, “Ele vai transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,21). Mas ela nos lembra também que com Jesus “é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (At 14,22). Por isso, como Cristo, o cristão não deve temer o sofrimento.
Unidos a Cristo pelo Batismo, já participamos realmente na vida celeste de Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). “Com ele nos ressuscitou e fez-nos sentar nos céus,
em Cristo Jesus” (Ef 2,6). Nutridos com seu Corpo na Eucaristia, já pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós também seremos “manifestados com Ele cheios de glória” (Cl 3,3).
Santo Agostinho nos ensina que: “Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a Montanha. Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?” (Sermão 78,6).
Assim, pela Transfiguração Jesus preparou os discípulos para não se escandalizarem com a sua Paixão e morte na Cruz, o que para eles foi um trauma e um grande desafio; mostrou-lhes a Sua glória e divindade; e deu-lhes conhecer um antegozo do Céu. Mas para isso, como Ele, temos que passar pelas provações deste mundo, sempre ajudados pelas consolações de Deus.
Prof. Felipe Aquino

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Não é fácil começar nem terminar um namoro

Um encontro de pessoas naquilo que elas são
Já vai muito longe o tempo em que os pais arranjavam os casamentos para os seus filhos. Se você quer encontrar alguém terá que procurá-lo. Normalmente, é no próprio círculo de amizades e ambiente de convívio que os namoros começam. Sabemos que o ambiente molda, de certa forma, a pessoa; logo, você deverá procurar alguém naquele ambiente que há os valores que você preza. Se você é cristão, então, procure entre famílias cristãs, ambientes cristãos, grupos de jovens, entre outros, a pessoa que você procura.
O namoro começa com uma amizade, que pode ser um pré-namoro que vai evoluindo. Não mergulhe de cabeça num namoro, só porque você ficou “fisgado” pelo outro. Não vá com muita sede ao pote, porque você pode quebrá-lo. Sinta primeiro, por intermédio de uma pura amizade, quem é a pessoa que está à sua frente. Talvez já nesse primeiro relacionamento amigo você saberá que não é com essa pessoa que você deverá namorar. É o primeiro filtro, cuja grande vantagem é não ter ainda qualquer compromisso com o outro, a não ser de amigos.
Nem sempre será fácil para você começar e terminar um namoro. Especialmente hoje, com a maior abertura do país, logo as famílias são também envolvidas, e isso faz o relacionamento se tornar mais compromissado. Se você não explorar bem o aspecto saudável da amizade, pode ser que o seu namoro venha a terminar rapidamente porque você logo se decepcionou com o outro. Isso poderia ter sido evitado se, antes, vocês tivessem sido bons amigos. Não são poucas as vezes em que o término de um namoro envolve também os pais dos casais, e isso nem sempre é fácil de ser harmonizado.
O namoro é o encontro de duas pessoas, naquilo que elas são e não naquilo que elas possuem. Se você quiser conquistar um rapaz só por causa da sua beleza ou do seu dinheiro, pode ser que amanhã você não se satisfaça mais só com isso. Às vezes uma pessoa simpática, bem-humorada e feliz supera muitos que oferecem mais beleza e perfeição física que ela.
Infelizmente, a nossa sociedade troca a “cultura da alma” pela “cultura do corpo”. A prova disso é que nunca as cidades estiveram tão repletas de academias de ginástica, salões de beleza, lojas de cosméticos, clínicas de cirurgias plásticas, entre outros, como hoje. Investe-se ao máximo naquilo que é a dimensão mais inferior do ser humano – embora importante – o corpo. É claro que todas as moças querem namorar um rapaz bonito, e também o mesmo vale para os jovens, mas nunca se esqueça de que o mais importante é “invisível aos olhos”.
Conheça o livro NamoroO que é visível desaparece um dia, inexoravelmente ficará velho com o passar do tempo. Aquilo que você não vê: o caráter da pessoa, a sua simpatia que se mostra sempre atrás de um sorriso fácil e gratuito, o seu bom coração, a sua tolerância com os erros dos outros, as suas boas atitudes, etc., isso tudo não passará e o tempo não poderá destruir. É o que vale.
Se você comprar uma pedra preciosa só por causa do seu brilho, talvez você compre uma “joia” falsa. É preciso que você conheça a sua constituição e o seu peso. O povo diz muito bem que “nem tudo que reluz é ouro”. Se você se frustra no plano físico, poderá ainda se realizar nos planos superiores da vida: o sensível, o racional e o espiritual. Mas, se você se frustrar nos níveis superiores, não haverá compensação no nível físico, porque ele é o inferior, o mais baixo.
A sua felicidade não está na cor da pele, no tipo do seu cabelo e na altura do seu corpo, mas na grandeza da sua alma. Você já reparou quantos belos e belas artistas terminam de maneira trágica a vida? Nem a fama mundial, nem o dinheiro em abundância, tampouco os mil “amores”, foram suficientes para fazê-los felizes. Faltou cultivar o que é essencial; aquilo que é invisível aos olhos. Tenho visto muitas garotas frustradas porque não têm aquele corpinho de manequim ou aquele cabelo das moças que fazem as propagandas dos “shampoos” ; mas isso não é o mais importante, porque acaba.
A vida é curta – mesmo que você jovem não perceba – por isso, não podemos gastá-la com aquilo que acaba com o tempo. Os homens de todos os tempos sempre quiseram construir obras que vencessem os séculos. Ainda hoje você pode ver as pirâmides de 4 mil anos do Egito, o Coliseu romano de 2 mil anos, e tantas obras fantásticas. Mas a obra mais linda e mais duradoura é aquela que se constrói na alma, porque esta é imortal. Portanto, ao escolher o (a) namorado (a), não se prenda às aparências físicas, mas desça até as profundezas da sua alma. Busque lá os seus valores.
Prof. Felipe Aquino

sábado, 8 de setembro de 2012

Como ser santo hoje?

Como podemos alcançar a santidade?
Desde a Antiga Aliança, Deus chama o povo à santidade: “Eu sou o Senhor que vos tirou do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos porque Eu sou Santo” (Lv 1,44-45). O desígnio de Deus é claro: uma vez que fomos criados à sua “imagem e semelhança” (Gen 1,26), e Ele é Santo, nós devemos ser santos também. O Senhor não deixa por menos. A medida e a essência dessa santidade é o próprio Deus. São Pedro repete esta ordem: “A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos, em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1,15-16).Neste sentido exortava os cristãos do seu tempo a romper com a vida carnal: “luxúrias, concupiscências, embriagues, orgias, bebedeiras e criminosas idolatrias” (1Pe 4,3), vivendo na caridade, já que esta “cobre a multidão dos pecados” (1Pe 4,8).
Essas são orientações claras para quem deseja viver a santidade hoje no meio desse mundo corrompido pelo pecado, sobretudo para vencer o exibicionismo, o hedonismo e a ganância. É a luta árdua e heroica para se livrar dos “pecados capitais”: soberba, ganância, luxúria, gula, ira, inveja e preguiça. Esses são pais de outros pecados; sem se livrar deles não pode chegar ao limiar da santidade.
Jesus, no Sermão da Montanha chama os discípulos à perfeição do Pai: “Sede perfeitos assim como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Jesus pergunta aos discípulos: “Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?” (46). Para o Senhor, ser perfeito como o Pai celeste, é amar também os inimigos, os que não nos amam. “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem e vos maltratam”(44). E mais ainda: “Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra”(39).
Todo o Sermão da Montanha, que São Mateus relata nos capítulos 5, 6 e 7, apresenta-nos o verdadeiro “código da santidade”. É como dizem os teólogos, a “Constituição do Reino de Deus”. Santo Agostinho nos assegura que: “Aquele que quiser meditar com piedade e perspicácia o Sermão que nosso Senhor pronunciou no Monte, tal como o lemos no Evangelho de São Mateus, aí encontrará, sem sombra de dúvida, a carta magna da vida cristã” (Sermão Dom. 1,1,1;Catecismo, §1966).
É por isso que na festa de todos os santos a Igreja nos faz ler no Evangelho, as Bem-aventuranças, que são o início, e como que o resumo, de todo o Sermão do Monte. Quem quiser buscar a santidade deve meditar profundamente essas páginas do Evangelho.
É importante perceber que São Paulo começa quase todas as suas cartas lembrando os cristãos do seu tempo de que são chamados à santidade. Aos romanos, logo no início, ele se dirige dizendo: “a todos os que estão em Roma, queridos de Deus, chamados a serem santos…“ (Rom 1,7). Aos coríntios ele repete: “à Igreja de Deus que está em Corinto, aos fiéis santificados em Cristo Jesus chamados à santidade com todos…” (1Cor 1,2). Aos efésios ele lembra, logo no início, que o Pai nos escolheu em Cristo “antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos” (Ef 1,5). Aos filipenses ele pede que: “o discernimento das coisas úteis vos torne puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo” (Fil 1,10).
“Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santificação e honestidade, sem se deixar levar pelas paixões desregradas como fazem os pagãos que não conhecem a Deus” (1 Tess 4,3-5).
Aos cristãos de Corinto, Paulo volta a insistir na sua segunda carta: “Purifiquemo-nos de toda a imundice da carne e do espírito realizando a obra de nossa santificação no temor de Deus” (2 Cor 7,1). Para o Apóstolo a santificação de cada um é como a realização de uma obra muito importante.
E também a carta aos Hebreus, manda procurar a santidade: “Procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor” (Heb 12,14).
Todas essas passagens da Sagrada Escritura, e muitas outras, deixam claro a nossa vocação para uma vida de santidade. Santa Teresa de Ávila afirma que: “O demônio faz tudo para nos parecer um orgulho o querer imitar os santos”.
A santificação consiste em cada cristão se transformar numa cópia viva de Jesus, “um outro Cristo” (“alter Christus”) como diziam os santos Padres. É aquele estado de vida que levou, por exemplo, São Paulo a exclamar: “Eu vivo, mas já não sou mais eu, é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus” (Gal 2,20).
O Papa João Paulo II, que era um pregador incansável da santidade, disse certa vez: “Não tenhais medo da santidade, porque nela consiste a plena realização de toda a autêntica aspiração do coração humano” (Losservatore Romano, N.17,7/4/96).
“A santidade é a plenitude da vida” (LR, N.20,18/5/96).
O mesmo Papa disse certa vez que “a Igreja existe para nos levar à santidade”. Esta Mãe bendita, que Jesus nos deixou, nos guia para o céu, pelo caminho da santidade: as orações, a vida litúrgica e sacramental, sobretudo os sacramentos da Confissão e Eucaristia; a sua doutrina severa mas libertadora, etc.
Quem segue a Igreja, quem ama a Igreja, quem trabalha com a Igreja, segue o caminho da santidade. Sem vida de oração, sem a necessária mortificação dos sentidos para submeter às baixas paixões, e sem a imprescindível “vigilância” que Jesus recomendou (“vigiai e orai”) ninguém será santo. A santidade é uma conquista de cada dia, na fé, na perseverança, para fazer sempre a vontade de Deus.
Para uma vida de santidade é necessário o contato diário com a santa Palavra de Deus, pois ela nos exorta, ilumina e fortalece na luta contra o pecado. Na tentação do deserto, quando o demônio investiu contra Jesus, para tentar vencê-lo, Ele o afastou três vezes, com as palavras da Escritura: “Está escrito…”. “O homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor” (Dt 8,3c). “Não provocareis o Senhor; vosso Deus” (Dt 6,16a). “Temerás o Senhor, teu Deus, prestar-lhe-ás o teu culto e só jurarás pelo seu nome” (Dt 6,13). E o demônio foi vencido… e se afastou. É uma grande lição para nós; afastar a tentação que nos leva ao pecado, lançando no rosto do Tentador a Palavra de Deus.
“A palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12).
Muitas são as sendas da santidade: o sofrimento oferecido a Deus pela nossa santificação e a dos outros nos leva à santidade. São Francisco de Sales, doutor da Igreja dizia que as melhores penitências não são aquelas que nós escolhemos para cumprir, mas aquelas que Deus permite que nos atinjam no caminhar da vida. Essas devemos aceitar com resignação. Dizia o santo que não é o doente que prescreve o medicamento, mas o médico.
Uma vida de trabalho honesto, responsável, incorrupto é outro caminho de santidade. O trabalho é a sentinela da virtude. O mau trabalhador nunca será um bom cristão e um santo. Desde que o pecado entrou no mundo, Deus introduziu nele o trabalho, não como castigo, mas como meio de redenção. Quem não trabalha, ou trabalha mau, estraga a própria vida.
O trabalho que nos santifica é aquele feito por amor a Deus, e não apenas para ganhar os sustento. São Paulo disse: “Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Col 3,17). E mais: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens, certos de que recebereis, como recompensa, a herança das mãos do Senhor. Servi a Cristo, Senhor” (Col 3,23).
O Apóstolo no convida a trabalhar “para o Senhor” e não para os homens. Isto quer dizer que quanto você vai, por exemplo, dar uma aula, a dê como se Jesus estivesse assistindo-a. Quando você atender um paciente, atenda-o como se Jesus fosse o doente. Quando você lavar uma camisa, o faça como se Jesus fosse vesti-la. Entendeu? Isso mudo o sentido da nossa vida e do nosso trabalho e nos santifica. “Servi a Cristo Senhor”.
Para nos leigos, a família é um caminho especial para se viver a santidade. O pai se santifica quando luta pelo sustento do lar, pela educação integral dos filhos; pela fidelidade permanente e total à esposa, quando cumpre perfeitamente seu papel de pai. A mãe, da mesma forma; este “sol do lar”, como disse Pio XII, cresce em santidade no cuidado do lar e dos filhos por amor à família. Como disse João Paulo II, a família é o “Santuário da Vida”, a “domus ecclesiae” (igreja doméstica), onde se aprende o caminho da virtude, da fé, de Deus e da santidade. Os pais são os primeiros catequistas, ensina a Igreja. É no lar que se moldam os santos. Quem não conheceu a Deus no colo da mãe, poderá ser mais tarde um ateu.
Santo Afonso de Ligório (1696-1787), o grande doutor da Igreja, fundador da Congregação dos Redentoristas, disse que para ser santo é preciso duas coisas: “fazer o que Deus quer e querer o que Deus faz”. Fazer o que Deus quer é viver os Mandamentos. Jesus disse aos Apóstolos: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Quando aquele jovem pergunto para Ele o que era preciso viver para ganhara o céu, Jesus mandou que ele vivesse os mandamentos: “Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19-20). Assim, Jesus mostrou-lhe o caminho ordinário para a santidade. E também para nós.
“Querer o que Deus quer” é saber aceitar todo sofrimento que nos atinge e que não é possível se livrar dele pela medicina e outros meios. Deus sabe nos levar à santidade pelo caminho da dor; Às vezes Deus não tem outro meio de arrancar as ervas daninhas do jardim de nossa alma.
Uma alavanca para a santidade é o “desejo do céu”. Infelizmente muitos cristãos vivem sem desejar ardentemente o céu; é um grave erro. Não fomos feitos para a terra; aqui estamos num “exílio” (paróquia em grego). São Paulo diz: “Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura” (Fil 3,20-21).
O caminho mais excelente de santificação é a devoção à Virgem Maria – fazer tudo por Maria, com Maria, em Maria e para Maria – como nos ensinou S. Luiz de Montfort no seu belo “Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima”.
Santo Agostinho disse que Maria é a “forma Dei”; a fôrma onde Deus gera santos. Buscar a santidade sem o auxilio da Virgem Maria é um caminho doloroso, mas com ela é “caminho suave, rápido e seguro”, diz São Luiz de Montfort. Sem a ajuda da Virgem Maria muitos desistiram na caminhada da santidade.
Prof. Felipe Aquino

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Como enfrentar as provações

Sofrer, com paciência, é sabedoria, pois assim se vive com paz

 
As provações nos fortalecem para o combate espiritual; por isso, os Apóstolos sempre estimularam os fiéis a enfrentá-las com coragem. São Pedro diz: “Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo…” (1 Pe 4,12). Ensinando-nos que essas dificuldades nos levarão à perfeição: “O Deus de toda graça, que vos chamou em Cristo à sua eterna glória, depois que tiverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, vos tornará inabaláveis, vós fortificará” 
(1 Pe 5,10).
O mesmo Apóstolo ensina-nos que a provação nos “aperfeiçoará” e nos tornará “inabaláveis”. É importante não se deixar perturbar no fogo da provação. Não se exasperar, não perder a paz e a calma, pois é exatamente isso que o tentador deseja.
Uma alma agitada fica a seu bel-prazer. Não consegue rezar, fica irritada, mal-humorada, triste, indelicada com os outros e acaba deprimida.
O antídoto contra tudo isso é a humilde aceitação da vontade de Deus no exato momento em que algo desagradável nos ocorre, dando, de imediato, glória a Deus, como São Paulo ensina:
“Em todas as circunstâncias dai graças, pois esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus” (1 Tes 5,16).
É preciso fazer esse grande e difícil exercício de dar glória a Deus na adversidade. Nesses momentos gosto de glorificar a Deus, rezar muitas vezes o “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo…” até que minha alma se acalme e se abandone aos cuidados do Senhor.
Essa atitude muito agrada ao Senhor, pois é a expressão da fé pura de quem se abandona aos Seus cuidados. É como a fé de Maria e de Abraão que “esperaram contra toda a esperança” (cf. Hb11,17-19), e assim, agradaram a Deus sobremaneira.
Da mesma forma, Jó agradou muito ao Todo-poderoso porque no meio de todas as provações, tendo perdido todos os seus bens e todos os seus filhos, ainda assim soube dizer com fé:
“Nu saí do ventre da minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jo 1,21).
Afirmam os santos que vale mais um “Bendito seja Deus!”, pronunciado com o coração, no meio do fogo da provação, do que mil atos de ação de graças quando tudo vai bem.
O Jardineiro Divino da nossa alma sabe os métodos que deve empregar para limpar cada alma. Não se assuste com as podas que Ele fizer no jardim de sua alma.
Santa Teresa diz que ouviu Jesus dizer-lhe: “Fica sabendo que as pessoas mais queridas de meu Pai são as que são mais afligidas com os maiores sofrimentos”. E por isso afirmava que não trocaria os seus sofrimentos por todos os tesouros do mundo. Tinha a certeza de que Deus a santificava pelas provações. A grande santa da Igreja chegou a dizer que “quando alguém faz algum bem a Deus, o Senhor lhe paga com alguma cruz”.
Para nós, essas palavras parecem um absurdo, mas não para os santos, que conheceram todo o poder salvífico e santificador do sofrimento.
“As nossas tribulações de momento são leves e nos preparam um peso de glória eterna” (II Cor 4,17).
Quando São Francisco de Assis passava um dia sem nada sofrer por Deus, temia que o Senhor tivesse se esquecido dele. São João Crisóstomo, doutor da Igreja, diz que “é melhor sofrer do que fazer milagres, já que aquele que faz milagres se torna devedor de Deus, mas no sofrimento Deus se torna devedor do homem”.
As ofensas, as injúrias, os desprezos, os cinismos irritantes, as doenças, as dores, as lágrimas, as tentações, a humilhação do pecado próprio, etc., nos são necessários, pois nos dão a oportunidade de lutar contra as nossas misérias.
Isso tudo, repito mais uma vez, não quer dizer que Deus seja o autor do mal ou que Ele se alegre com o nosso sofrimento, não. O que o Senhor faz, de maneira até amável, é transformar o sofrimento, que é o salário do próprio pecado do homem, em matéria-prima de nossa própria salvação, dando assim, um sentido à nossa dor.
A partir daí, sob a luz da fé, podemos sofrer com esperança. É o enorme abismo que nos separa dos ateus, para quem a dor e a morte continuam a ser o mais terrível dos absurdos da vida humana.
A provação produz a perseverança, e por ela, passo a passo, chegaremos à perfeição, como nos ensina São Tiago.
“Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança…” (Rom 5,3-5).
Sofrer com paciência é sabedoria, pois assim se vive com paz. Quem sofre sem paciência e sem fé, revolta-se, desespera-se, sofre em dobro, além de fazer os outros sofrerem também.
Santo Afonso disse que “neste vale de lágrimas não pode ter a paz interior senão quem recebe e abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar a Deus”. Segundo ele “essa é a condição a que estamos reduzidos em consequência da corrupção do pecado”.
Prof. Felipe Aquino