A pílula do dia seguinte é
distribuída na Rede Pública de Saúde do país desde 2005, e atualmente,
não há necessidade de receita médica para retirá-la. A proposta do
Ministério de Saúde é evitar a gravidez indesejada e consequentemente o
número de abortos.
Na cartilha que orienta os profissionais de
saúde, o Ministério afirma que a pílula não é abortiva, e que
simplesmente impediria a fecundação, por evitar o encontro do
espermatozoide com o óvulo. Entretanto, a fecundação pode ocorrer entre
um a cinco dias após a relação sexual, estando a mulher em período
fértil, e ali, nesse momento, começa a vida. "Como é apresentado em
qualquer livro de biologia", afirma a Doutora em Microbiologia pela
UNIFESP, Dra. Lenise Garcia, também integrante da Comissão de Bioética
da Arquidiocese de Brasília e da CNBB e presidente do Movimento Brasil
Sem Aborto.
Segundo a especialista, a própria Organização
Mundial da Saúde (OMS) tem começado a difundir a ideia de que o momento
da concepção, ou seja, da gravidez, seria só após o "óvulo" ter se
implantado no útero, o que leva cerca de seis a oito dias após a
fecundação, e com base nesse argumento afimam que a pílula do dia
seguinte não é abortiva. Contudo, nesse aspecto há equívocos, pois a
cartilha chama de óvulo aquele que já é o embrião humano, ressalta Dra.
Lenise. "A fecundação já é uma vida humana, original, se não fosse isso
não haveria o que 'implantar'. É uma incoerência do argumento", afirma.
Com
base nisso, os especialistas pró-vida alertam que a pílula é abortiva,
pois como é utilizada até cinco dias depois da relação sexual, pode
ocorrer do óvulo já ter sido fecundado e por consequência impedir que
ele siga o percurso natural de implantação no útero.
"Com o
óvulo fecundado começa uma nova vida, ainda minúscula, mas ali já tem o
código genético de um novo ser humano. E nesse embriãozinho, o zigoto,
está concentrada toda a potencialidade de desenvolvimento de um ser
humano. Por isso que, a Igreja Católica acompanhando a opinião de
grandes cientistas reconhece que ali já se trata de vida humana e que
tomar uma pílula para expulsar aquele óvulo fecundado significa
abortar", esclarece o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para
Vida e Família da CNBB, Dom João Carlos Petrini.
Além dessa
preocupação, muitos médicos têm afirmado que a pílula é como "uma bomba
hormonal", que equivale a quase meia cartela dos anticoncepcionais
comuns. "O que é distribuído em 25 dias será distribuído nas 72 horas
após o ato sexual. É uma grande quantidade de hormônios que o corpo
feminino recebe e logicamente terá efeitos colaterais", explica o médico
e bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias.
Banalização das relações humanas
Outro
aspecto abordado por Dom Antônio é o de que, na sociedade atual, as
relações entre as pessoas estão ficando muito no âmbito superficial e,
em alguns casos, apenas no âmbito físico, e se esquece que há outros
valores que sustentam os relacionamentos humanos e a sociedade em geral.
"O valor do relacionamento do homem e da mulher que culmina
numa relação sexual não é apenas um ato físico, um ato reprodutor, mas é
um ato em que está envolvidos muitos valores que elevam o
relacionamento do homem e da mulher, tais como fidelidade, carinho, amor
verdadeiro, entrega, doação de um ao outro, o nascimento de uma criança
que torna o homem e a mulher pais, que é o valor muito grande da
paternidade e maternidade, a amizade, o autodomínio, a fortaleza, a
lealdade e a sinceridade do ato conjugal", explicou Dom Antônio.
O
bispo ainda alertou que ao facilitar essa "segurança" contra a
gravidez, ajuda-se a destruir os relacionamentos humanos e a própria
família, e com isso, os relacionamentos de amor, de gratuidade, deixando
a sociedade à mercê da banalização dos relacionamentos. "É isso que
nos surpreende: que o Ministério da Saúde, com essa cartilha e essa
distribuição gratuita e ágil da pilula do dia seguinte, pretenda tornar a
sociedade humana banalizada e sem sentido de compromisso entre as
pessoas".
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